Wednesday, December 27, 2006

Pela manhã fique no hotel

O Centro Cultural e o Museu só abrem à tarde. Mas a biblioteca nos recebeu de portas abertas. Imensa e bem iluminada, ocupa vários andares de um prédio especialmente construído para abrigar toneladas de livros, os quais por sinal, ficam bem escondidos. O público não caminha pelas estantes de livros que suponho existam. Você escolhe o livro desejado em um terminal e faz seu pedido eletronicamente. Aguarda o seu nome aparecer na tela e vai até o balcão, onde está milagrosamente a obra selecionada. Surpreendi-me com o bem estar que me invadiu naquele ambiente silencioso e intelectual. Deu uma vontade imensa de estudar, de pegar um livro e ler, de desfrutar daquele lugar dedicado ao estudo. Eu havia esquecido de como eu gosto destes ambientes acadêmicos. Como é bom viajar, agente acaba se encontrando.

Uma homenagem aos táxis argentinos

Sou o fã número 1 dos táxis argentinos. Velhos, barulhentos, mas rápidos, com ar condicionado e baratos! Lembro-me quando minha mãe tinha uma loja de brinquedos e toda a filharada era recrutada para ajudar nas vendas do Natal. Eu contava com uns 13 ou 14 anos e saia com o corpo moído de ficar em pé atendendo aos clientes. Quando vou à feiras ou convenções sofro um bocado. Decididamente meu corpo não foi feito para ficar em pé. Quer me ver feliz, me dê uma cadeira. Quer me ver muito feliz, deixe-me colocar os pés sobre a mesa.

Perdidos de mapa na mão (ou não nasci para ficar em pé)

Lembra-se da música “Para não dizer que não falei das flores”?, tinha aquela parte “... quase todos perdidos de armas na mão”, pois foi o que aconteceu conosco. Emília toda animadinha convenceu-me a caminhar até a Recoleta, o bairro artístico de Buenos Aires. Lá tem um Centro Cultural, o museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional ... já havíamos estudado a região o que foi muito facilitado pelo governo argentino para o qual tiro o chapéu. O site da cidade é fantástico, o turista é tratado à pão de ló. Baixei um guia de Bs As (bacana o jeito como eles abreviam Buenos Aires!) escrito em português e depois baixei uns 10 arquivinhos mp3 com vozes de pessoas importantes da cultura Portenha (chamam-se Portenhos pois a cidade é um porto de entrada para o país) nos apresentando os principais pontos de interesse da Recoleta. Depois de caminharmos mais de uma hora, sempre consultando o mapa para ver se estava tudo correto dobramos a derradeira esquina, que nos separava do Centro Cultura. E néca de pitibiriba de Centro Cultura. Incrédulos olhamos no mapa e antes que pudéssemos atinar onde estávamos um gentil cavalheiro veio nos socorrer. Disse com tranqüilidade que estávamos a 20 quadras de onde pensávamos estar. Mas como? Enfim, descobrimos que há duas avenidas com o mesmo sobrenome Alvear e que ambas são mais ou menos paralelas mas vão se afastando. E nós estávamos na errada é claro. Nada que um táxi não resolvesse em 15 minutos.

Desafio das 100 páginas

Na sala de embarque saquei o “Meu nome é vermelho” e embarquei no meu duplo desafio: conseguir ler 100 páginas em um dia e terminar aquele livro chatérrimo. Este livro é do paquistanês Orhan Pamuk, ganhador do Nobel de literatura deste ano. Comprei-o todo animado no último domingo de outubro, logo após votar no segundo turno das eleições presidenciais. Geralmente não lembro do que fiz em qualquer data passada, mas aquele domingo havia sido marcante. Após uma escaldante partida de basquete no parque do Ibirapuera, com a camisa suja e suada votei. E para minha alegria, ao lado, do colégio havia uma livraria que estava aberta e lá encontrei o livro que eu já tinha selecionado para ler. Mas a história ia muito devagar sem maiores encantos literários. Será que o cara é bom mesmo? Será que eu não estou captando o seu brilhantismo? Procurei críticas literárias na web tratando do livro e tudo que encontrei enaltecia o autor e a obra. Raios! Se eu tivesse achado um punhado de críticos crucificando o livro eu teria o abandonado sem remorso. Mas como todos aplaudiam, eu tinha que ir em frente. E agora eu queria ler 100 páginas em um dia. Isso seria uma conquista. Se eu fosse capaz de ler 100 páginas em um dia eu poderia devorar um livro de 500 em cinco, não precisaria mais fugir dos livros grossos. Fiquei horas entretido com a história dos miniaturistas turcos. Comecei a gostar daquela cantilena repetitiva que me impingiu um ritmo mais lento, menos galopante. Algumas horas depois eu havia lido 70 páginas e já começara a lamentar que em breve terminaria o livro.

Correria de última hora

Sou um cara super detalhista e metódico. Dois dias antes da viagem minha mala já estava quase pronta, faltavam apenas alguns retoques. Calculei que uma hora antes de sairmos de casa para o aeroporto eu deveria voltar ao assunto “mala” e finalizá-la. O que eu não contei é que eu precisaria de mais tempo do que isso para os tais últimos retoques e acabei tendo que socar tudo nas malas, destruindo minha tão precisa arrumação e ficando em dúvida se tinha levado tudo. Mas isso não tirou o meu bom humor.

Meu primeiro post e meu primeiro hambúrguer argentino

Chegamos ontem à noite. Tudo correu bem, escapamos ilesos ao caos que tomou conta dos aeroportos brasileiros . Aproveito o descanso da tarde para me aventurar pelo mundo dos blogs. Nunca escrevi um e há dez minutos decidi fazer o meu primeiro. Viajar é ter esta disponibilidade para o novo, que delícia. Hei, não vá pensando que sou aquele tipo de viajante que acha tudo lindo e maravilhoso. Ontem à noite ao pousarmos em nosso hotel estávamos zuretas de fome e cansaço. Descemos para o calçadão quase meia noite e paramos na frente de uma vitrine que oferecia empanadas. Pareciam deliciosas, mas me arrepiei ao imaginar o balconista me perguntando o que eu queria, se queria molho, se queria isso ou aquilo, eu não entendendo nada, ele repetindo, a fila atrás se avolumando, eu procurando uma foto para apontar o que eu queria ... moral da história: comemos no McDonald’s ao lado. Viva!